O Centenário de Dona Ana Pereira de Sousa, Patronesse da Cadeira 45 da ALANEG
(Discurso lido pelo Cerimonial durante Solenidade
Comemorativa ao Centenário de Nascimento da Educadora e Vereadora Dona Ana
Pereira de Souza, na Câmara Municipal de Formoso-MG, em 26 de setembro de
2005).
Xiko Mendes
“(....).
Nesta Solenidade Comemorativa ao Centenário de Nascimento da Professora e
Vereadora Ana Pereira de Sousa, venho dirigir-me aos
familiares de Dona Ana, aos amigos e eternos admiradores que aqui ela deixou,
para saúda-los nesta muito oportuna homenagem que o Poder Legislativo lhe
presta ao seu dia de nascimento: 28 de setembro!
Para falar sobre Dona
Ana, temos que falar de Formoso. Lugar isolado, perdido nos sertões, distante
do futuro, escondido da Civilização, Formoso era, no começo do século XX,
apenas um vilarejo paracatuense onde homens lutadores como o Coronel João
Borges Carneiro ou Martinho Antônio Ornelas Júnior tentavam mudar o rumo dessa
História heróica. Só que eles morreram; morreram todos antes de 1915.
A primeira escola pública
de Formoso, criada pelo Estado em 1882, nunca tinha funcionado, nem sede tinha,
muito menos professor pago pelo Governo. A Educação aqui era artigo de luxo. Só
filho de fazendeiro – e apenas de alguns fazendeiros iluminados – que pagava
professores particulares, tinha acesso ao conhecimento, à escola. Mas em 1923 o
Distrito de Formoso – que estava sem professor na Vila desde 1912 – foi transferido
para o município de São Romão. Aí tudo mudou! Seu Minervino Gomes Ornelas foi
eleito e empossado em 1924 Vereador Distrital para a Câmara de São Romão.
Como sua primeira esposa
– Dona Rosa – tinha uma sobrinha em Januária, recém-formada como Professora,
Seu Minervino decidiu sugerir o nome dela para o Prefeito de São Romão, Major
Saint Clair Fernandes Valadares. O pedido foi prontamente acatado! Dona Ana,
com seus dezenove anos, veio para Formoso; despediu-se eternamente de sua
Januária natal para fazer história onde o futuro precisava dela.
No dia 16 de abril de 1925 DONA ANA INICIOU
SEUS TRABALHOS DE REGÊNCIA DE CLASSE COMO A PRIMEIRA PROFESSORA (funcionária)
PÚBLICA DE FORMOSO – sendo esta a verdadeira data onde começa a História da
Educação em Formoso. Dona Ana foi nomeada Professora dia 28 de outubro de
1924 por ato do Governador em exercício, Dr. Olegário Maciel, com base no
Decreto Estadual 6.665 de 19/8/24. Lotada como Servidora Pública Estadual na
Secretaria do Interior, obteve autorização para lecionar somente até a terceira
série do Ensino Primário.
Daí em diante a Comunidade do Arraial do Formoso
passou a contar, regularmente, com a sua ESCOLA PÚBLICA FUNCIONANDO sem
interrupções. Mesmo quando o Governo atrasava pagamento ou o envio de material
didático, que vinha em trem de ferro até Pirapora, dali em vapores pelo São
Francisco até Januária e de lá em lombo de burro ou em carro de boi até
Formoso, Dona Ana nunca interrompeu suas aulas. Sem um prédio para lecionar fez
da própria casa uma escola; um carvão, uma lousa, qualquer material servia-lhe
de “instrumento pedagógico” para que aquela heróica educadora ensinasse aos
seus alunos o caminho para o conhecimento.
Como educadora, Dona Ana tornou-se
aqui a PRIMEIRA LIDERANÇA EDUCACIONAL DE FORMOSO, razão pela qual, por sugestão
nossa, é conferido a ela, nesta Solenidade, o título “pos-mortem” de PATRONESSE
DO ENSINO MUNICIPAL. Mas Dona Ana não foi apenas uma professora, embora
isto por si só já engrandeceria sua riquíssima biografia como fundadora da
primeira escola de Formoso: a Escola Estadual Martinho Antônio Ornelas. Dona
Ana foi uma educadora missionária! Fez de tudo na vida um sacerdócio. Renunciou
à sua vida particular para servir à Comunidade de Formoso a vida inteira!
Como mãe, Dona Ana não teve o
privilégio de ter filhos biológicos; mas dezenas de pessoas ou foram criadas ou
por algum tempo foram enteadas do Casal Dona Ana e Seu Florípio (Alves
Santana).
Como líderança religiosa, nomeada
pelo Bispo de Paracatu e intelectual holandês, D. Eliseu van de Weijer, Dona
Ana dirigiu com seu marido a Igreja Matriz católica Nossa Senhora da Abadia por
50 anos deixando o cargo só em 1980. Sempre dedicando-se à Família e à
Religiosidade.
Como vereadora, Dona Ana foi eleita
pelos colegas vereadores Secretária da Mesa Diretora deixando nos anais deste
Plenário atas memoráveis e com redação admirável.
Como intelectual, Dona Ana escreveu o
livro autobiográfico intitulado “Lembrança do Passado” publicado com
recursos próprios em 1987. Neste pequeno livro, cujo conteúdo transcrevi para
meu livro sobre Formoso, encontramos o relato emocionante de uma pioneira
abnegada e determinada a construir, em Formoso, uma nova mentalidade. Com uma
base intelectual invejável para aquele tempo de atraso, Dona Ana foi amiga
pessoal de intelectuais e autoridades importantes como o já mencionado
sacerdote holandês e o escritor januarense Manoel Ambrósio que enquanto foi
Inspetor de Ensino, ao visitar o Distrito de Formoso, sempre hospedava-se na
residência dela.
Educadora, escritora, mãe em tempo integral, líder
religiosa, vereadora, Dona Ana foi tudo isto, mas principalmente foi a melhor amiga do Povo
de Formoso. A prova disto são as dezenas de compadres, de comadres e afilhados
que deixou aqui neste município – exemplo concreto do reconhecimento público e
da consideração que Formoso tinha por ela.
Como Historiador desta Cidade, tive o privilégio de
escrever uma centena de biografias sobre pessoas ilustres de Formoso, e por
isto, posso dizer, sem medo de errar, que se tivesse de eleger as duas pessoas
sem as quais Formoso não seria o que é hoje, com certeza, Dona Ana e Seu Abdias
Magalhães Ornelas, seriam escolhidas como as Personalidades Formosenses
do Século XX mais importantes! Ninguém em Formoso rivaliza com eles! São
pessoas muito especiais por que tudo o que fizeram não visava tirar proveito
próprio, mas, antes de tudo, ajudar o Povo.
Parabéns, Vereador Antônio Pereira da Silva,
autor da Resolução que aprovou a realização desta SOLENIDADE COMEMORATIVA AO
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DA EDUCADORA ANA PEREIRA DE SOUSA! Que outras
homenagens, de hoje em diante, possam ser feitas neste Plenário a pessoas que
merecem por que lutam a vida inteira por uma causa: tornar Formoso melhor,
tornar nosso povo mais consciente. Esta tem sido, modéstia à parte, a minha
tarefa. Duas delas são, inclusive, a luta pela implantação do Ensino da
História do Município e de Educação Ambiental em nossas escolas; e a luta
pela criação do museu CASA DE CULTURA DE FORMOSO-MG ANA PEREIRA DE SOUSA.
Para isto, deixei com o Governo do Município agora no início de agosto os
projetos de lei já redigidos; basta enviá-los aos vereadores e transformá-los
em Lei. Tenho certeza que ainda dentro destas comemorações do Centenário, o
Governo Luizinho colocará em prática este projeto do museu com o nome de Dona
Ana. Será um ato de justiça e de reconhecimento público deste Governo com esta
pioneira que nem sequer tem uma rua ou uma escola com o nome dela. Estamos
aguardando! Muito obrigado!
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